Entenda como calor, frio e até a luz ambiente podem enfraquecer uma vacina, que é um produto sensível
Enfermeira segura dose de vacina candidata da Sinovac Biotech contra a Covid-19 em hospital da PUC-RS | Diego Vara/Reuters
Com diversas vacinas promissoras já na fase final de testes, chega a hora de pensar em distribuição, armazenamento e logística.
Vacinas são produtos sensíveis. Calor, frio e até a luz ambiente podem enfraquecê-las, dependendo da formulação. A maioria, no entanto, fica bem acondicionada em temperaturas de 2° a 8°C. Por isso, toda a logística de transporte e armazenamento segue um protocolo chamado “cadeia fria”.
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Esse protocolo, defendido pela Organização Mundial da Saúde, estabelece que o acondicionamento adequado precisa ser mantido todo o tempo, nas etapas de transporte e armazenamento temporário, até chegar ao posto de saúde. Uma vez no posto, instruções de acondicionamento, de abertura e manuseio dos frascos precisam ser seguidas.
Qualquer problema nesse caminho todo, qualquer exposição indevida à luz ou temperatura inadequadas, pode acarretar perda de potência da vacina. Uma vacina menos potente, aplicada na população, pode não conferir a proteção adequada.
Das vacinas na fase final de teste para Covid-19, as que mais preocupam, nesse quesito, são as vacinas de mRNA, como as da empresa americana Moderna e da alemã Pfizer. A molécula de mRNA é bastante sensível. A Pfizer já anunciou que sua vacina precisará de freezers com temperaturas de -70°C. Um freezer comum chega a -20°C. Um freezer de -70° é um equipamento comum em laboratórios de biologia molecular, mas não nos postos de saúde do SUS. E menos ainda em transportadoras.
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A Moderna avisa que a sua vacina deve resistir bem em -20°C, o que melhora, mas não resolve. Não temos, no Brasil, transportadoras equipadas para manter essa temperatura em larga escala. A empresa AstraZeneca, responsável pela produção da vacina de adenovírus em parceria com a Universidade de Oxford, ainda não fez anúncio oficial, mas adianta que provavelmente precisará de refrigeração. Vacinas de proteína, como as da empresa Novavax, devem aceitar temperaturas compatíveis com uma geladeira doméstica. Mas a OMS não recomenda o uso de refrigeradores comuns, pois eles não têm a estabilidade necessária. Além disso, sabemos que há regiões no Brasil onde o fornecimento de eletricidade é inconstante.
Vacinas de vírus inativado, como a da Sinovac, costumam ser armazenadas também com refrigeração simples, mas muitas são sensíveis ao calor, o que, para um país como o Brasil, pode trazer problemas. Por quanto tempo uma vacina dessas, uma vez fora da geladeira, resiste à temperatura ambiente de um clima tropical?
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Nos EUA e na Europa, grandes transportadoras como UPS e DHL vêm equipando seus aviões e galpões para lidar com o desafio. Já estão providenciando equipamentos especiais para uso em salas frias, para embalar e despachar os lotes de doses. Vamos precisar de salas adequadas nos principais pontos de entrada no Brasil.
Em um país continental como o nosso, com todas as restrições orçamentárias conhecidas, teremos de levar todas essas dificuldades em conta. O planejamento logístico já deveria ter começado