NIM: a planta que serve para tudo
01/02/2002 DIOCLÉCIO LUZ
Imagine uma planta que tenha poderes inseticidas sem ser tóxica ao ser humano, que sirva de alimento ao homem e aos animais, sua madeira seja excelente para fabricação de móveis e a casca tenha poderes medicinais. Pois bem, a Nim (ou Neem), uma planta originária da Índia, da Birmânia e da Indonésia, é tudo isso e muito mais.
Nim, a planta de mil e uma utilidades |
A Nim (Azadiractha indica A. Juss) está fazendo uma revolução no meio rural. Na agricultura em especial, uma vez que suas folhas ou o suco gerado pelas sementes maceradas é um excelente inseticida. O Brasil descobriu há pouco. Está atrasado, porque ela já está devidamente popularizada entre os vizinhos. Há grandes plantios na Nicarágua, Cuba, El Salvador, Chile Guatemala, Costa Rica e República Dominicana; e, mais longe, na Alemanha e Estados Unidos.
A planta foi introduzida no Brasil em 1993, por Belmiro Pereira das Neves, doutor em entomologia, do Centro Nacional de Pesquisa de Arroz e Feijão da Embrapa, em Goiânia. A teimosia do técnico, que lutou contra o poder das multinacionais fabricantes de agrotóxicos e a arrogância dos colegas que menosprezaram seu trabalho, valeu a pena. Hoje existem mais 600 mil árvores plantadas no país. Tem Nim em Fortaleza, Goiânia, Belém, Tocantins e Mato Grosso. Um convênio da Embrapa com a iniciativa pri-vada está disponibilizando 800 mil mudas de Nim, em Luziânia, a 200km de Brasília.
O interesse pelo Nim é crescente. Não é para menos. "Já se comprovou cientificamente que o Nim controla mais de 150 espécies de insetos considerados pragas da agricultura", afirma Belmiro. Com a vantagem de não ser tóxico para o ser humano e nem para os inimigos naturais das pragas.
Belmiro destaca o uso do Nim na agricultura familiar. "A planta produz sombra, fruta e, entre outras coisas, o inseticida para se usar na lavoura". Ninguém vai depender do agrotóxico, arriscando-se à contaminação, para combater as pragas.
O que se aproveita do NIM
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Casca - O extrato aquoso feito com a casca do Nim é bom para combater a febre, catarro, malária, reumatismo e histeria; é estimulante tônico. Funciona quando aplicado sobre as feridas e outras enfermidades da pele. Com a casca se faz sabonete e pasta dental.
Raízes - O mesmo uso dado à casca.
Tronco - A madeira é reta e forte, excelente para construção de casas, móveis, estacas. Não é atacada por cupins ou traças. É considerada madeira nobre. A Europa está pagando US$ 200 pelo metro cúbico.
Folhas - Com elas se prepara um inseticida. Também se faz um chá para tratamento de úlceras, parasitas intestinais e enfermidades do fígado; baixa a febre causada pela malária. As folhas novas, cruas, são comestíveis - são ricas em proteínas, cálcio, ferro e vitamina A; misturadas com pi-menta negra são excelentes para combater os parasitas do intestino.
Podem ser utilizadas como adubação verde ou cobertura vegetal (ao se decompor melhora o solo). É um excelente alimento para cabras e ovelhas, uma vez que tem muitas proteínas e poucas fibras.
As flores - As pequenas flores brancas têm um perfume de mel; podem ser comidas frescas, secas, ou misturadas às sopas. É utilizada para problemas de digestão e estado de debilidade do corpo. O chá das flores é bom para dor de cabeça.
As frutas - A polpa das frutas do Nim tem um sabor adocicado e podem ser comidas. A fruta do Nim é utilizada como tônico, purgante e antiparasitário. É eficiente também em enfermidades dos rins, e hemorróidas. A fruta seca em molho de água é usada no tratamento das enfermidades da pele.
As sementes - Prensando ou fervendo as sementes se obtém o óleo de Nim. É o subproduto do Nim mais utilizado na medicina. Esse azeite, não comestível, é utilizado no tratamento de algumas enfermidades da pele, como a lepra, no combate ao reumatismo, torcicolos etc. Serve também para fabricação de sabonetes e creme dental. A torta que sobra da elaboração do óleo serve como adubo orgânico e como alimento do gado; também se pode utilizar na fabricação de inseticidas.
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Ele também destaca que o Nim está sendo utilizado em áreas de desertificação, e há projetos para uso em reflorestamento, substituindo o pinus e o eucalipto. Ao contrário do eucalipto, que faz do lugar um deserto verde (plantas e animais não conseguem aninhar na área), o Nim oferece frutos que atraem os animais. Os empresários vêem nele outra vantagem, a madeira, de primeira qualidade, uma vez que o Nim é primo do mogno.
Nim é negócio na forma in natura ou industrializado. Nos Estados Unidos existem mais de 20 subprodutos da árvore, já devidamente patenteados. A Alemanha é um dos países que comercializam o óleo feito com suas sementes.
Klaus Bolillon, que cultiva 1 hectare (1.800 pés) de acerola em Indaiatuba, São Paulo, experimentou o óleo do Nim em metade de sua lavoura. Na outra metade manteve o controle com agrotóxicos. Resultado: "a incidência de pulgões (entre outros insetos) na lavoura tratada com Nim foi menor do que a tratada com os produtos químicos; o Nim controla melhor". E cita duas vantagens imediatas no seu uso: 1) custo, que pode ser zero em função do produtor ter o seu plantio de Nim; 2) deixar de aplicar veneno, que é perigoso para quem aplica, para o meio ambiente e o consumidor.
Satisfeito com o resultado, Klaus já plantou uma área com Nim. "Em três anos terei material suficiente para atender toda minha lavoura". Ele critica o modelo atual. "Usando o Nim podemos chegar a independência em agrotóxico, mas existe uma política em manter a dependência. Por exemplo, por que a Embrapa, que pesquisa o assunto há seis anos, nas publicações que me envia regularmente, nelas nunca fez referência ao Nim?"
O engenheiro agrônomo Hélcio Abreu Júnior, de Campinas, São Paulo, estuda controle de pragas sem uso de venenos há onze anos. O Nim ele pesquisa há cinco. Helcio diz que o Brasil está atrasado. "A República Dominicana tem 5 milhões de pés de uma planta que substitui o agrotóxico!", alerta.
Helcio, que presta assessoria para alguns produtores agroecológicos, é autor do livro "Práticas alternativas de controle de pragas e doenças na agricultura", e está comercializando mudas de Nim.
O médico-veterinário Alberto Machado, do Rio de Janeiro, também está pesquisando o Nim. Ele tem testado o extrato da planta no controle de carrapatos. Alberto garante: "o Nim é eficiente como carrapaticida".
As pesquisas no Brasil - lideradas pelo cientista Belmiro Pereira - estão apenas começando. Mas já se tem certeza que o Nim representa uma ferramenta importante na implantação de um novo modelo agrícola. Um modelo onde o produtor seja independente do mercado de insumos e possa trabalhar sem arriscar sua vida na atividade do campo.
Um inseticida naturalEfeitos do Nim sobre os insetos
Repelente - alguns insetos não conseguem depositar seus ovos nem comer as folhas tratadas com Nim.
Alteração do crescimento - pode causar alteração no desenvolvi-mento da pele, deficiências na formação das asas e de outras partes do corpo. Provoca desordem hormonal nas fases de desenvolvimento dos insetos.
Ação de redução da fecundidade e esterilização - pode reduzir a fecundidade das fêmeas ainda nas formas imaturas e causar esterilidade parcial ou total nos ovos de vários artrópodes.
Ação sobre a atividade vital - pode reduzir a atividade motora, o tempo de vida, alterar o comportamento sexual nos machos, provocar impotência e redução na produção de feromônios, além de poder provocar mortalidade aguda em alguns insetos. Importante: devido a ação rápida e diversificada dos ingredientes ativos, não há o desenvolvimento de indivíduos mais resistentes na população, como acontece quando se usa agrotóxicos.
E mais, pode reduzir a população de nematóides fitófagos (seres que vivem na terra e se alimentam das plantas); acaba com determinados tipos de fungos ("ferrugem do feijoeiro", por exemplo), inibe algumas bactérias.
Até o momento já se comprovou a eficiência do Nim sobre 63 insetos que ocorrem no Brasil. Veja o quadro abaixo e conheça alguns deles.
A ficha do Nim
O Nim, Azadirachta indica A Juss, é da família das meliaceas. Recebe nomes diversos como Magousier, Lilás da Índia, Aziradac, Azadira, Margosa, Marrango ou Canye. O nome mais difundido, porém, é Nim ou Neem. Ele não deve ser confundido com seu primo, o cinamomo (Melia Azedarach L.), que também tem lá seus poderes inseticidas e medicinais e está difundido no país como ornamental.
A árvore Nim tem as seguintes características:
Chuvas - Sobrevive em regiões com pluviosidade até 150 mm/ano. O ideal varia entre 400 e 1200 mm
Temperatura - Suporta de 40 a 400 C. O ideal está entre 200C e 270 C.
Solo - Suporta solos salinos e com pouca matéria orgânica. Não su-porta alagadiços.
Altura - De 7 até 20 metros
Produção - inicia com 4/5 anos. Com 10 anos produz 30/50kg de frutas.
Propagação - Por semeadura, estacas e enxerto.
Pragas - As formigas cortadeiras atacam o Nim.
Princípio ativo - Foram descobertas 25 diferentes ingredientes ativos; pelo menos oito afetam os insetos. O principal é o triterpenoide azadiractina.
Persistência - O Nim pulverizado permanece no meio ambiente de três a cinco dias em média.
Temperatura - Suporta de 40 a 400 C. O ideal está entre 200C e 270 C.
Solo - Suporta solos salinos e com pouca matéria orgânica. Não su-porta alagadiços.
Altura - De 7 até 20 metros
Produção - inicia com 4/5 anos. Com 10 anos produz 30/50kg de frutas.
Propagação - Por semeadura, estacas e enxerto.
Pragas - As formigas cortadeiras atacam o Nim.
Princípio ativo - Foram descobertas 25 diferentes ingredientes ativos; pelo menos oito afetam os insetos. O principal é o triterpenoide azadiractina.
Persistência - O Nim pulverizado permanece no meio ambiente de três a cinco dias em média.
Modo de preparo
As folhas ou sementes secas, devem ser amassadas/trituradas e deixadas dentro d'água por 24 horas. Depois é só misturar este concentrado à água na proporção de dois a dez litros de extrato de Nim para 100 litros de água. Filtrar e colocar no pulverizador. Aplicar, preferivelmente, à tardinha. Como não é tóxico ao ser humano, não há necessidade de utilizar equipamento especial.
Mais informações:
Belmiro Pereira - (62) 833-2170/2119 fax: (62)833 2100 - e-mail:nevesbp@cnpaf.embrapa.gov.brHelcio Abreu Junior - (19) 212-0906 (Campinas-SP) - e-mail:hverde@correionet.com.brManoel Vieira - (17) 227 4912 (S.José do Rio Preto -SP) - e-mail:mvieira@westnet.com.brMinor Takatsuka - (062) 203 3481 (Goiânia-GO)
Belmiro Pereira - (62) 833-2170/2119 fax: (62)833 2100 - e-mail:nevesbp@cnpaf.embrapa.gov.brHelcio Abreu Junior - (19) 212-0906 (Campinas-SP) - e-mail:hverde@correionet.com.brManoel Vieira - (17) 227 4912 (S.José do Rio Preto -SP) - e-mail:mvieira@westnet.com.brMinor Takatsuka - (062) 203 3481 (Goiânia-GO)
jornalista e escritor, autor, em parceria com Sebastião Pinheiro, do livro "Ladrões de natureza - uma reflexão sobre a biotecnologia e o futuro do planeta"
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