Andrey Ricardo
Da Redação - jornal de fato
O tenente Eromar Sátiro Cavalcante, comandante da Polícia Militar de Caraúbas, foi preso na noite de domingo passado sob acusação de disparos de arma de fogo em via pública e por desordem. Ele estava à paisana e foi preso por policiais da Operação Oeste - é composta por policiais civis que fazem ronda pela região. A confusão, por pouco, não terminou em um confronto armado entre PMs, que queriam a liberação de seu comandante
A crise entre policiais civis e militares começou logo após o jogo do Brasil, no domingo passado, quando uma multidão se aglomerou na praça principal de Caraúbas para comemorar a vitória do Brasil por 3 a 1 sobre a seleção da Costa do Marfim. A partir de então começaram as divergências entre a versão que foi apresentada pela Polícia Civil e a Polícia Militar. De acordo com os policiais da Operação Oeste, eles foram acionados após o tenente Eromar efetuar vários tiros no meio da multidão, correndo o risco de alguém ser alvejado. Por isso, segundo os policiais civis, o militar terminou preso.
De acordo com o delegado Inácio Rodrigues de Lima, que responde pela Polícia Civil em Pau dos Ferros e cidades vizinhas e, naquele dia, estava à frente da Operação Oeste, sua equipe atuou da maneira correta. Ele conta que não estava na cidade - tinha ido realizar um flagrante em Pau dos Ferros -, mas que seus policiais informaram que o tenente estaria embriagado e que foi utilizada a força física necessária para que ele fosse imobilizado e, depois, conduzido para a delegacia, onde seria autuado em flagrante. Porém, antes de chegarem à DP, os policiais civis foram "abordados" pelos militares.
Em número bem inferior, os policiais civis teriam entrado em um acordo sobre a condução do tenente até a delegacia de Caraúbas, onde seria feito o flagrante do policial militar. "Mas eles desaparecerem com ele. Não foram pra delegacia como havia sido combinado com minha equipe. Diante disso, informei o ocorrido aos meus superiores e veio uma ordem do comando-geral da PM para que ele se apresentasse em Mossoró", explica Inácio, ressaltando que, logo em seguida, o militar foi apresentado pelos seus policiais, acompanhado por superiores, na DP de Plantão de Mossoró.
Entretanto, a versão do tenente Eromar é completamente diferente dessa que foi apresentada pela Polícia Civil. Ele confirma que efetuou dois disparos para cima, mas seu objetivo seria conter uma confusão que ocorria na praça central de Caraúbas. Ele nega que estivesse embriagado e afirma também que os policiais civis espancaram-no. Por isso, ainda de acordo com Eromar, os seus policiais resolveram intervir e, por pouco, segundo ele, não houve um confronto armado. O PM disse também ao DE FATO que pretende processar os policiais civis que participaram daquela operação.
O delegado Inácio Rodrigues foi questionado pelo DE FATO sobre as denúncias de uso excessivo de força física, feitas pelo tenente Eromar, e negou veementemente que seus policiais tenham cometido qualquer tipo de erro. "Eles agiram da maneira correta, dando um exemplo de como a polícia deve agir. Usaram a força necessária para imobilizar uma pessoa armada que estava colocando em risco a vida de várias pessoas, inclusive dos próprios policiais. Ele estava bêbado e nós temos 400 testemunhas de que a ação dos meus policiais foi legítima", defende-se Inácio Rodrigues.
PM é afastado
O comandante-geral da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, coronel Araújo Silva, determinou o imediato afastamento do tenente Eromar Sátiro Cavalcante, que há cerca de um ano assumiu a função de comandante do Pelotão da PM de Caraúbas. Ontem mesmo foi designado um novo oficial para comandar a PM na cidade.
De acordo com o comadante-geral da PM, a decisão de afastar o tenente Eromar tem o caráter preventivo. Araújo explica que determinou também a abertura de um procedimento interno para apurar a conduta do policial militar. Caso seja confirmada a denúncia feita pelos policiais civis, o militar deverá ser punido no término do Inquérito Policial Militar.
Diante da acusação, o tenente Eromar vai continuar trabalhando, porém, longe dos serviços ostensivos. Segundo o comandante-geral, Araújo Silva, o tenente vai trabalhar na parte administrativa do Segundo Batalhão de Mossoró, onde ele é subordinado e está sendo feita a investigação interna.
O coronel Araújo lembrou também que, além do procedimento administrativo, o militar vai responder também criminalmente, através do inquérito instaurado pela Polícia Civil. "Ele terá que se explicar também pra Polícia Civil sobre os tiros em via pública", ressalta.
Já o delegado Osmir Monte, diretor do Departamento de Polícia Civil do Interior (DPCIN), que regula a Polícia Civil no interior do Rio Grande do Norte, até ontem ainda não havia sido comunicado oficialmente sobre o incidente em Caraúbas. À reportagem, Osmir disse que pretendia se pronunciar sobre o caso somente após ser informado pelo delegado Inácio Rodrigues de Lima, que estava à frente da Operação Oeste naquela ocasião.
"Só depois, juntamente com o delegado-geral (Elias Nobre de Almeida), é que vamos decidir o que será feito", esclarece o delegado Osmir.
Prisão de PM gera tensão
Em outubro de 2008, o Brasil inteiro parou para assistir ao confronto que envolveu policiais civis e militares de São Paulo durante uma greve dos civis. A confusão entre as duas corporações foi acompanhada por vários jornalistas e as imagens divulgadas no mundo inteiro. No domingo passado, situação semelhante, por pouco, não se repetiu em Caraúbas. Os policiais civis e militares chegaram a sacar suas armas, uns contra os outros, mas não chegaram a efetuar tiros.
Segundo o tenente Eromar Sátiro, ele havia sido preso, algemado e colocado dentro de uma das viaturas da Operação Oeste. Foi justamente nesse momento que os policiais do Grupo Tático Operacional (GTO) da PM chegaram ao local e começaram as discussões.
"Ia tendo um confronto armado lá na hora porque os policiais civis apontaram as armas para os policiais militares (subordinados ao tenente Eromar), porque eles foram tentar me resgatar. Eu estava sendo agredido por eles (policiais civis)", relembra o oficial da PM, justificando a ação de intervenção dos seus policiais.
"Eles não queriam me liberar, mesmo sabendo que eu era um tenente. Eu não posso ser conduzido dessa forma e nem ser algemado, então houve essa confusão, chegando perto de haver um confronto. A qualquer momento, pelo despreparo deles (policiais civis), eles poderiam apertar o gatilho contra os policiais militares", acrescenta o tenente Eromar.
Porém, a versão do tenente Eromar sobre a possibilidade de um confronto armado entre as duas corporações foi desmentida pelo delegado Inácio Rodrigues de Lima, que era o responsável pela Operação Oeste durante a confusão do domingo passado. Ele disse que essa possibilidade não foi cogitada hora nenhuma. "Eles entraram em um acordo e meus policiais deixaram a PM conduzir o tenente", explica.
Em São Paulo, diferente do que houve em Caraúbas, houve realmente um confronto entre os policiais civis, que estavam em greve, e os militares, que foram ordenados a assumir o comando das delegacias civis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário